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A uroscopia no século XVII

A uroscopia no século XVII
02/03/2019

Pintor flamengo do período barroco, David Teniers, o Jovem (1610 – 1690), é reconhecido pelo toque humano de seus trabalhos. ‘Uroscopia’, exposto no Museu de Belas Artes de Bruxelas, traz os elementos da observação do cotidiano que caracterizam o artista. Cabe lembrar que a uroscopia é uma prática médica que existe desde o Antigo Egito, Babilônia e Índia, sendo particularmente enfatizada na medicina bizantina, com foco no exame visual da urina de um paciente para verificar a presença de pus, sangue ou outros sintomas de doenças. Seu objetivo é exatamente facilitar o diagnóstico de distúrbios e há referências que já era praticada desde a época do médico grego Hipócrates.

A prática era muito adotada porque, em diversas culturas, o exame direto de um paciente, principalmente sem roupa, era socialmente inaceitável.A pintura tem ainda maior significado quando recordamos que, até meados do século XIX, a uroscopia continuava sendo um método comum para diagnosticar doenças, dentro dos princípios de que a cor, a nebulosidade, os precipitados e as partículas na urina poderiam indicar a causa de distúrbios.

O desenvolvimento dessa prática levou aos atuais exames de urina laboratorial, realizados a partir de uma amostra de urina para obter informações clínicas, principalmente para verificar e comprovar a existência de doenças, principalmente nos rins e vias urinárias.

A presença de sangue, proteínas e outras substâncias na urina pode indicar doenças graves que ainda não apresentam sintomas claros. Quando os níveis de glicose estão altos, por exemplo, pode ser uma indicação de diabetes; e a presença de leucócitos pode sugerir uma inflamação nas vias urinárias. Nesse sentido, uma urina visualmente aparentemente normal não indica que ela não possa ter alterações.

O exame laboratorial é a melhor maneira de poder detectar problemas e, nesse sentido, verificar como a medicina se transformou, da uroscopia do século XVII aos tempos atuais, é muito interessante. 

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.