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Contra os rótulos

Contra os rótulos
16/11/2018

Poucas vezes na história da arte se viu tantas pessoas falarem contra os rótulos com tamanha veemência. Particularmente parece ser uma posição sábia, pois vivemos num momento em que as fronteiras tendem a se diluir nos campos da cultura, da sexualidade e da arte.

Em lugar de papéis rígidos e muito bem definidos, temos o predomínio de zonas cinzentas e de transição. Isso vale também para a pintura. Paradoxalmente, porém, há movimentos que buscam definições conceituais como reserva de mercado e de entendimento de sua própria colocação no panorama artístico.

Stephanus é um criador que ilustra bem essa discussão. Sua linguagem visual é próxima dos artistas considerados naifs, ou seja, autodidatas e ingênuos, já que apresenta um desenho considerado simples e sem a linguagem chamada de erudita ou acadêmica. Mas há também uma proximidade do expressionismo alemão, no sentido das cores quentes e da transgressão das formas que conhecemos daquilo que chamamos realidade.

O maior ensinamento nisso tudo está na limitação que as etiquetas trazem. A principal questão não é o estilo ao qual à obra de Stephanus se filia, mas sim aquilo que comunica ao público. O que torna um artista grande é o seu poder de emocionar e de mobilizar as pessoas. A maneira como é chamada é desafio para acadêmicos e críticos de arte, cujo espaço na sociedade vem diminuindo já há algum tempo.

Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.