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Visões de mundo de Codo

Visões de mundo de Codo
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Visões de mundo de Codo
Visões de mundo de Codo
14/03/2023

Visões de mundo de Codo Ser artista não é apenas lançar um olhar sobre o entorno. Inclui ampliar essa percepção no sentido de buscar conexões entre aquilo que para muitos não tem significado e os próprios valores. Nesse aspecto, as obras de Codo (Clodoaldo Torquato) aqui apresentadas surgem a partir de resíduos jogados no Parque do Bosque. Localizado em São Sebastiao, região administrativa de Brasília, DF, o local é uado por pessoas sem consciência ambiental como depósito de lixo a céu aberto. A partir desses materiais surgem obras como “Escravos da Serra Gaúcha”, em que, excetuando a tinta, todo o material provém do Parque. As molduras, por exemplo foram feitas com galhos de árvores queimadas no Parque, dentro de uma proposta estética que tematiza a dor e a miséria existencial das pessoas que foram encontradas na Serra Gaúcha vivendo em uma situação análoga à da escravidão.

 

A mesma lógica de reutilização de materiais é utilizada na expressiva e colorida composição intitulada ‘Galo Chinês”. “Assum Preto”, por sua vez, homenageia a célebre canção de Humberto Teixeira, eternizada por Luiz Gonzaga, que tem como assunto a condenável prática de furar os olhos do pássaro para ele cantar.

 

Dentro de uma perspectiva de rever e criticar essas ações, os olhos furados na obra passam a ser do ser humano, que, assim não pode mais praticar maldades. Nessa mesma linha crítica da sociedade, Codo homenageia o romance “Bom Crioulo”, de Alberto Caminha.

 

Publicado em 1895, considerado um dos primeiros romances sobre homossexualidade da literatura ocidental, a narrativa trata do amor entre o protagonista Amaro, um ex-escravo que presta serviços à Marinha e o jovem branco Aleixo de 15 anos. Questões raciais e de gênero são tratadas de maneira novadora, chocando a crítica da época. O conjunto reforça como a arte pode tratar de questões sociais e ambientais tanto pelos materiais utilizados como pelas imagens criadas. Dessa maneira, o trabalha atinge um status poético que se junta ao resultado estético, comunicando como criar é um processo de seleção do que se fala e como isso é feito.

 

Oscar D’Ambrosio

 

Escravos da Serra Gaúcha

Acrílica, correntes e cadeado sobre madeira

60 x 60 cm

 

Galo Chinês

acrílica sobre madeira

55 x 45 cm

 

Assum Preto

acrílica sobre madeira

45 x 45 cm

 

Bom-Crioulo

acrílica sobre madeira

40 x 40 cm