A arte tem um composto misterioso de intuição. Traz em si mesma um jeito próprio de ver, sentir e captar o mundo. É uma forma de conhecimento e interpretação visual que reúne dois aspectos essenciais: a técnica e a sensibilidade. Ambos se articulam para oferecer imagens plenas de um sentido a ser desvendado pelo artista.
As configurações visuais que Sergio Telles apresenta têm diversos temas de inspiração e mote pictórico como releituras de percepções da zona de prostituição carioca, conhecida como Mangue, que já não existe mais, assim como visões da Tunísia, Índia, Malásia, Indonésia, Rio de Janeiro e a série do circo de Zurique.
Mais importante, porém, do que o assunto retratado é o modo como isso ocorre. O artista consegue, em seus momentos mais aprimorados, gerar atmosferas de lirismo ou de irônica reflexão. Isso significa ter a coragem de lidar com duas características básicas da arte de pintar: as camadas de tinta e o uso das tonalidades de cor.
Acontece assim um ponderar permanente. Seja colocando e somando tinta ou instalando silêncios conquistados pelo saber olhar o mundo, Sergio Telles estabeleceu, em suas obras, recortes que levou a suas telas e trabalhos sobre papel em nome do sutil mistério que a arte comporta.
Oscar D’Ambrosio