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Você compra artes? (Parte 3)

Você compra artes? (Parte 3)
14/01/2022

Como relacionar a pesquisa individual do artista com aquilo que o mercado espera e com os resultados que ambos desejam, seja qualidade, prestígio ou dinheiro? A melhor situação é a criação de um círculo virtuoso em que haja inserção no sistema e preservação do seu papel de criador intelectual.

 

Aqueles que optam apenas pelo segundo, ao não desejarem a inserção, se marginalizam e, por consequência, se afastam cada vez mais do sistema que desejam combater. Longe do sistema, o artista que preserva a sua capacidade intelectual vende seu trabalhão para quem?

 

E, ao vender, não estaria criando seu próprio sistema, que também precisaria combater para manter a coerência estética? Não há saída nesse pensamento, resultado, de uma visão discutível em que o artista precisaria ser marginal ao capitalismo para ter qualidade.

 

Aquilo que torna o artista melhor é a sua pintura, escultura, gravura ou capacidade técnica e de pensamento de realizar uma obra de arte, independendo da técnica utilizada. A inserção no mercado depende de numerosos fatores – muitos alheios ao próprio artista.

 

Inserir-se no mercado, tendo sucesso de venda e de público, não pode ser visto como “pecado” ou uma “venda” ao sistema. Pelo contrário, inserir uma obra de qualidade num mercado muitas vezes marcado pela mesmice é que constitui o verdadeiro desafio, contribuindo para propor novidades qualitativas ao chamado gosto comum.

Fazendo isso, o artista não se rebaixa, como alguns argumentam, mas atua no padrão do gosto do mercado. Ansioso por novidades – algo próprio do modo de agir e pensar do capitalismo –, o sistema abre brechas. Saber aproveitá-las é uma prova de talento e de sobrevivência nos concorridos mercados globalizados.

 

Oscar D’Ambrosio

 

Imagem: @gallo_arts