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Você compra artes? (Parte 2)

Você compra artes? (Parte 2)
13/01/2022

Comprar arte significa pensar o que ela significa e quais são os elos estabelecidos entre uma obra, seja qual for o suporte e a mídia em que ela foi realizada, e o mercado. O valor não está apenas no objeto em si mesmo, mas em uma série de fatores que o rodeiam, como o currículo construído pelo artista ao longo da carreira e o material utilizado.

 

Uma expressão concreta disso pode ser encontrada na atitude de alguns colecionadores. Ao mostrarem suas obras, geralmente não se referem a elas como trabalhos artísticos a terem seus elementos intrínsecos, como equilíbrio, cor ou luz, a serem analisados. Eles as tratam como “um Fulano” ou um “um Sicrano”.

 

Nessa visão, a assinatura é mais importante. O mercado de arte, seguindo essa lógica, valoriza muito quem fez o trabalho e não a obra isoladamente. A assinatura vale mais do que aquilo que é feito. Essa valorização do artista, enquanto produtor cultural, estabelece em torno dele uma aureola mítica e mesmo mística enquanto criador.

 

Há muitos tipos de artistas, com múltiplas e complexas variações. Há, por exemplo, os que estão inseridos no mercado das galerias e os que se afastam dos moldes tradicionais, por escolha própria ou delas, buscando alternativa nas formas de comercializar o trabalho.

 

Os primeiros focam o sucesso comercial, a pesquisa de mercado, o lucro, a riqueza e o poder com uma pesquisa estética voltada, desse modo, para gerar produtos “belos”, dentro de uma visão decorativa, ou seja, facilmente consumíveis, dando ao artista visibilidade e nome no mercado.

 

Assim, o consumidor adquire a assinatura e não a imagem que visualiza. Alguns artistas deixariam então pesquisas individuais de lado em nome do mercado. Outros parecem se opor ao mercado, mas mantêm certa “autorização” dele para se manter ativos e produtivos.

 

É preciso tomar cuidado para não acreditar que o criador, para ser autêntico, precisa viver na marginalidade ou que só poderá ter qualidade se estiver à parte do sistema. Isso significa mergulhar num sofrimento sem fim. A questão é bem mais complexa e tem muitos desenvolvimentos. Em breve, veremos alguns deles.

 

Oscar D’Ambrosio