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Cerâmica Tapajônica, de Jefferson Paiva de Souza  

Cerâmica Tapajônica, de Jefferson Paiva de Souza   
08/12/2021
Membro da terceira geração de artesãos da família, Jefferson Paiva de Souza cumpre, com a realização da cerâmica tapajônica, reconhecida como patrimônio artístico e cultural do Pará, o seu destino. Um ponto de inflexão nessa trajetória ocorreu em 2017, quando, em um momento de crise financeira, o avô, o Mestre Isauro, lhe apareceu em um sonho.


 

O pai de seu pai lhe disse: “Você está nessa porque você quer, você sabe o caminho que você deve seguir”. Decidiu então largar o negócio de olarias e focar exclusivamente na cerâmica, ofício que havia aprendido com o pai, que aprendera do pai dele, que foi pioneiro, no interior do Pará, na recuperação desse tipo de produção artesanal nos anos 1930.


 

Na década de 1970, já em Santarém, PA, o pai de Jefferson conheceu o artista plástico Laurimar Leal que o incentivou na produção das reproduções existentes no museu local de uma cerâmica que traz consigo uma ancestralidade em parte perdida. Com a morte do pai, aos 12 anos, porém teve que trabalhar para auxiliar a família e atuou, por 6 anos, no Exército.


 

Depois, abriu uma olaria, na qual investiu por quase uma década. Nesse momento, viveu o momento de desespero que a misteriosa aparição do avô ajudou a resolver. Não só passou então a se dedicar às reproduções como, em 2018, ingressou no curso de arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará, para entender melhor o próprio trabalho.


 

Surgiram assim oportunidades de mostrar no exterior um resgate dos modos de fazer tapajônicos ancestrais, como a preparação da pasta, o uso do cauxi, uma esponja da beira dos rios da região que oferece resistência às peças. Jefferson preserva assim uma tradição que se manifesta nas decorações com motivos de figuras de animais e humanas.


 

Muito relacionadas a festas e rituais religiosos de uma civilização destruída pelos conquistadores europeus, que floresceu em uma extensão de 600 km ao longo dos rios Tapajós e Amazonas entre 900 e 1600, essas expressões de cerâmica tapajônica ficariam esquecidas na história se o Mestre Isauro não tivesse estimulado o neto a continuar.


 

Oscar D’Ambrosio