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A série Round 6 e as artes visuais

A série Round 6 e as artes visuais
08/12/2021

A série coreana “Round 6”, exibida pela plataforma Netflix, foi um fenômeno em 2021. A narrativa envolve 456 pessoas endividadas que participam de uma competição mortal de seis etapas, cada uma baseada em uma brincadeira infantil. Haverá apenas um vencedor, que receberá um prêmio milionário.

Deixando de lado a violência estilizada da história, muito próxima aos videogames, a história pode ser ponto de partida para uma reflexão sobre a carreira de artista visual, porque uma habilidade é necessária para enfrentar cada etapa. A soma delas indica caminhos para obter visibilidade na carreira. Não se trata de uma receita mágica, mas de tópicos de reflexão.

O primeiro jogo é “Batatinha Frita 1,2,3”, uma mistura de Pique e Estátua. Os participantes apenas podem se movimentar, dentro de um tempo determinado, rumo a uma linha de segurança enquanto uma boneca gigante repete o nome do jogo. Quando para, todos precisam congelar. Quem se mexe, é eliminado. São necessárias calma e estratégia.

O segundo, “Colmeia de Açúcar”, consiste em destacar um biscoitinho, com desenhos de um simples círculo ou de um complexo guarda-chuva, de uma forma sem quebrar um mínimo pedaço sequer. Ultrapassar o tempo ou se afobar é mortal. O segredo é amolecer o biscoito com a própria saliva para conseguir que ele seja retirado sem rachar. A precisão é essencial.

No terceiro, o “Cabo de Guerra”, há formação de equipes que buscam puxar os jogadores adversários para um abismo. Aqui é necessário trabalhar em grupo. Após mostrar autocontrole (primeiro desafio) e habilidade (segundo desafio), a exigência é entrar em acordo com a equipe para encontrar as próprias forças e combater deficiências.

Jogar com “Bolinhas de Gude” é a quarta prova. A competição é em duplas. Cada uma decide as próprias regras para obter as dez bolinhas do adversário. O essencial aqui é decidir, dentro das próprias capacidades, qual é a melhor maneira de ser vitorioso. Buscar enfatizar o que se sabe fazer bem se torna essencial.

A quinta etapa é a “Ponte de Cristal”, que consiste em cruzar um abismo sobre painéis de vidro, sendo que alguns aguentam o peso de um ou mais participantes e outros quebram ao menor sinal de pressão. É difícil ter a habilidade de perceber a diferença da refração da luz entre os dois tipos. Ter sorte e aprender com os erros dos competidores anteriores é essencial.

A última fase é “O Jogo da Lula”, em que um competidor tenta permanecer dentro da figura estilizada do animal e o outro tenta retirá-la à força. É um combate entre os dois sobreviventes das provas anteriores. Cada um recebe uma faca. A batalha é mortal. O resultado final aponta que o mais importante não é vencer o outro, mas não desistir de si mesmo.

Imagine que as 456 pessoas da competição estivessem disputando um edital de artes visuais. Quem venceria?  Serenidade no jogo, proposta precisa, conhecer os pontos fortes, enfatizar essas qualidades, aprender com os erros e nunca desistir são passos essenciais. A competição não é contra os outros, mas a favor de si mesmo.

Oscar D'Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.