Tantas vezes apümngeiñ, de Sebastián Calfuqueo
O diálogo entre o ontem, o hoje e o amanhã alimenta a instalação “Tantas vezes apümngeiñ", de 2016, de Sebastián Calfuqueo, que consiste em uma peça escultórica feita de resina e terra (60 x 500 cm) e de um vídeo. É um projeto visual cuja origem está na leitura de uma pesquisa sobre identificação de executados e desaparecidos durante a ditadura chilena (1973 – 1990).
Sebastián aparece em um vídeo, gravado na Região de Araucanía, onde muitas dessas pessoas, de origem Mapuche, assim como ele mesmo, têm as suas origens. A sua ação é a de lidar com a terra, já que a maioria delas trabalhava com a agricultura. A imagem é acompanhada de um áudio com as traduções para o espanhol dos 179 nomes homenageados.
A escultura tem como modelo o pai de Sebastián. Feirante de profissão, embora não atue na lavoura, vende hortaliças, e as suas mãos são igualmente calejadas. Por trás do corpo, é escrita a frase "Tantas vezes apümngeiñ", cuja última palavra, em tradução livre, significa algo próximo a “Fizeram-nos acabar”. Tantas vezes isso ocorreu...
A terra utilizada na modelagem do corpo e do texto é extraída da mesma região em que foi feito o vídeo. O tridimensional e o digital interagem, portanto, na materialidade e geram um encontro entre os mortos, o pai e o filho como uma corrente em que os exterminados pela opressão, o trabalhador braçal e a arte se encontram na construção do futuro.
Oscar D'Ambrosio
