Oscar D'Ambrosio

O cobre é um dos principais motores da economia peruana. O país é o segundo mais produtor do mundo, atrás apenas do Chile, e as maneiras de lidar humana e socialmente com a extração do metal é um dos principais motivadores das reflexões artísticas de Ximena Garrido-Lecca (Lima, 1980).A série de obras “Aleaciones con Memoria de Forma” (2014 - 2019) traz a discussão de como o material pode ser relido, revisto, ressignificado e transformado, principalmente em um diálogo com técnicas andinas tradicionais, como a arte têxtil. A peça remete justamente a uma esteira com suas linhas e tramas em diálogo com a cultura local ancestral. O cobre ocupa o lugar dos fios de tecido. A pesquisa da artista aponta justamente para questões essenciais nacionais. Cabos, tubos e arames de cobre ganham novos sentidos, pois geram um jogo visual que alude a uma realidade econômica terceiro-mundista em que o material é exportado em estado bruto e depois importado em diversos produtos.A obra alude especificamente aos tecidos da cidade e Cerro de Pasco. Considerada a “mais alta do mundo”, a 4,3 mil metros de altura, apresenta um constante céu cinzento, pois, na prática, é uma enorme mina de cobre a céu aberto, com um nível de metais pesados no solo e na água extremamente altos causando sérios problemas de saúde em seus moradores.Em 2008, o Congresso peruano aprovou uma lei para mudar a cidade inteira de lugar, o que ainda não aconteceu, e o governo do Peru, mais de uma vez, decretou estado de emergência de saúde pública no município. As obras de Ximena Garrido-Lecca operam a sua contundente poética nessas linhas complexas entre a desumana exploração do cobre e a artesania milenar.Oscar D’Ambrosio