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Chiaroscuro, de Alfredo Jaar

Chiaroscuro, de Alfredo Jaar
Chiaroscuro, de Alfredo Jaar
16/09/2021

Uma das maravilhas da arte está na sua capacidade de ultrapassar espaços. Seja física ou mentalmente, um dos momentos de maior magia ocorre quando a obra reverbera, ultrapassa o espaço expositivo e, de fato, exerce a função da pedrinha que é jogada no lago com ondas que reverberam infinitamente. “Chiaroscuro”, do chileno Alfredo Jaar (1956), é uma ação nessa direção. Dois modelos de cartazes com o texto “O velho mundo está morrendo. O novo demora a nascer. Nesse claro-escuro, surgem os monstros”, de Antonio Gramsci, ambos impressos em duas cores saturadas, são distribuídos gratuitamente ao público. A ação de Jaar se insere no pensamento desse filósofo (1891 – 1937), membro-fundador e secretário-geral do Partido Comunista da Itália, que enfrentou a prisão pelo regime fascista de Benito Mussolini. Sua principal tese, a da hegemonia cultural, discute, com impressionante atualidade, como o Estado usa as instituições culturais para conservar o poder. Jaar, que desenvolve também a “The Gramsci Trilogy”, uma série de projetos em que se dedica ao estudo da contemporaneidade da visão do mundo do pensador italiano, realiza, por meio de uma ação que pode parecer simples, uma densa caminhada das frases selecionadas, para que elas possam penetrar nas residências das mentes de cada visitante da Bienal. Oscar D’Ambrosio