[ A física e a matemática
não conseguiam explicar
o rancor
os turvos ódios
a tortura
e os falíveis sonhos
...
A vida nos olhava de frente
e depois nos virava as costas
não queríamos ser
como aqueles seres
nem carne, nem peixe
meio barro, meio tijolo
que apagavam suas pegadas
ao caminhar
não queríamos passar a vida
jogando sal ao mar
e acariciando monstros. ]
Fragmento do poema “SERENATAS”, do livro “O Livro da Adolescência”
Palimpsesto Carbono
Os poemas de Euro S. R. tratam da jornada humana das mais diversas formas; e as suas criações visuais apontam para as múltiplas possibilidades de cada um se relacionar com a vida e com os materiais. Seu “Palimpsesto Carbono” evoca, já no título, um elemento essencial para os seres vivos. Basta lembrar que o gás carbônico, por exemplo, é utilizado para alguns organismos realizarem a fotossíntese. Além disso, o carbono se faz presente em rochas e oceanos. Integra ainda materiais usados nas artes plásticas, como o carvão e o grafite. No aspecto químico, pela sua enorme capacidade de ligação a outros elementos, está em nosso DNA. Como apontam o texto e o palimpsesto de Euro S. R., a física e a matemática podem não explicar “os falíveis sonhos”, mas o carbono, essencial em alguns materiais artísticos, nos ajuda a transformar nossos “monstros” internos em imagens inesquecíveis.
Oscar D’Ambrosio