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Frida e Angela tomando chá (ou café) na casa de Simone, de Luciana Mariano

Frida e Angela tomando chá (ou café) na casa de Simone, de Luciana Mariano
04/06/2021

Pelo título da obra de Luciana Mariana, somos levados a uma jornada por três mitos que discutem a condição feminina. A escritora Simone de Beauvoir (1908 – 1986), ao que sabemos dona da casa da cena, tem uma influência significativa no pensamento feminista, principalmente pelo livro “O Segundo Sexo” (1949), que trata da opressão contra as mulheres.

 

Do lado direito da mesa, está a pintora mexicana Frida Kahlo (1907 – 1954), célebre não só pelos seus retratos e autorretratos e obras inspiradas na natureza e na cultura local, mas pelas manifestações, na vida e na arte, de valorização da própria identidade e da liberdade de gênero na conservadora sociedade local.

 

Do lado direito, encontra-se a professora norte-americana Angela Davis (1944), filósofa socialista que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos EUA e dos Panteras Negras, importante movimento de militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial em seu país.

 

A pintura inclui uma solitária vela na mesa, que dialoga com o foco de luz na calçada do lado de fora da casa; Frida com um gato, escritos em inglês no chão, relógio na parede, livros de cunho libertário na estante, um retrato de Sartre, que viveu uma relação afetiva com Simone, fumando cachimbo na parede, e o piso ligado ao mobiliário por jogos visuais em marrom.

 

A imagem junta dois ícones do movimento feminista conversando em uma mesa muito bem posta em que curiosamente há bule, mas não xícaras de chá. Esse jogo de presenças/ausências se dissemina pela obra, tendo como ápice a falta da dona da casa anunciada no título. É desses mistérios e da silenciosa conversa entre as protagonistas que a obra se alimenta.

 

Oscar D’Ambrosio