textos

diárias de bordo

Ele está aí, de Elsa Farias, Socorro, SP

Ele está aí, de Elsa Farias, Socorro, SP
04/06/2021

Desde 18 de maio último, polêmicas se multiplicam sobre a escultura “Io Sono” (“Eu Sou”, em italiano), do artista Salvatore Garau, que alcançou o preço de aproximadamente R$ 91 mil. A peça foi arrematada no evento 4-U new Arte Contemporanea, realizado pela casa de leilões de arte Art-Rite.

 

A questão é que a obra é um espaço vazio delimitado pelo artista, em dimensões de 1,5 m x 1,5 m, com a observação “dimensões variáveis” e que deve ser instalada em um recinto “livre de qualquer estorvo”. A venda inclui um certificado de autenticidade assinado por Salvatore, assegurando ao comprador a posse da obra.

 

Trata-se de uma obra imaterial no sentido que não tem uma existência palpável. Existe, portanto, no mundo das ideias platônico. É uma essência que cada um pode conceber mentalmente de uma maneira diferente, enquanto as esculturas materiais são existências aristotélicas que podem ser tocadas.

 

A escultura imaterial também é distinta das obras comercializadas por NFTs porque é única e não pode ser reproduzida enquanto o mercado de Non-Fungible Tokens (Token Não-Fungível) lida com arquivos criptografados que atribuem a um comprador a posse de uma peça de arte digital que pode ser infinitamente reproduzida.

 

Perante essa discussão, Elsa Farias, de Socorro, SP, criou a obra “Ele está aí”. Quem está aí? Pode ser o novo coronavírus? Certamente pode ser quem a pessoa quiser que esteja ali. Talvez apenas um “fungo” preto a dominar a tela? Acima de tudo, é uma situação provocadora que faz pensar...

 

Pode ser um vazio, um nada... Mas nele há tantas ideias, inclusive a ideia do vazio e do nada... Perante imaginações e situações às vezes paralisadas, um “choquinho” de pensamento sobre uma escultura imaterial tem o potencial de auxiliar a estabelecer pontes e diálogos, derrubando muros e autoritarismos.

 

Oscar D’Ambrosio