“Há 1 vida”, poema do livro “Pandeiros, Pandemônios e Pandemias”, de Pedro Rauchbach, editado pela Selin Trovoar, com temas relacionados ao momento atual.
Há uma vida lá fora Dobrando a curva Virando a esquina Embaixo do asfalto E da pele também Sobre as cabeças Sob os uniformes Dos homens Apadrinhados Há uma vida Longe da buzina dos carros e da poluição Das bocas Da caça às bruxas De saias rotas Na mochila dos Viajantes e nos Trapos dos homens Sem trato da opinião anônima Que vagueia Na língua de fulano E beltrano Há uma vida Por entre as horas dos Planos No enquadramento dos Sonhos e fora deles Também Onde os sentidos Não alcançam E as reflexões Tampouco Nos dias desrespeitados E nos que exigem respeito Na fauna na flora e na fé No sexo dos amantes E nos anjos decaídos Nos versos decassílabos E na estrada 101 Para além dos bares Onde os homens se perdem E das igrejas onde Eventualmente eles se encontram Há uma vida Na hesitação do suicida E do algoz também Na angústia que carrega A liberdade de cada um de vós Há uma vida Para além Dos preceitos humanos Dos preconceitos urbanos Dos acadêmicos enrustidos Das escolas sem partido E dos canteiros dos colégios onde morrem os poetas Há 1 vida Há uma vida lá fora E ela espera avidamente Que você não se (a) traia
Obra de Edward Hopper
Esta obra de Edward Hopper (1882 – 1967) representa, via um peculiar realismo figurativo, a solidão contemporânea. A atmosfera encontra correspondência com o isolamento social exigido pela pandemia. O equilíbrio das persianas semiabertas, o paralelo entre a mesa com vaso de flores e a mulher sentada de costas, a monótona visão externa, sem elementos humanos, e as figuras geométricas formadas pelo retângulo de luz e pela área cor de vinho acentuam um equilíbrio agoniante pleno de vazios visuais e tonalidades de cores rebaixadas em um universo melancólico, caracterizado por um potente silêncio.
Oscar D’Ambrosio