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Terra Bruta, de Jorge Medeiros

Terra Bruta, de Jorge Medeiros
29/05/2021

Simbolicamente, a terra é a origem de tudo. Até o próprio ser humano, em diversas mitologias, de diversas maneiras, foi moldado a partir dela; e o ato de enterrar os corpos está vinculado à metáfora de que as pessoas, ao morrerem, retornam ao pó, numa interpretação cristalizada na tradição judaico-cristã, mas também presente, em outras crenças, com sentidos semelhantes.

 

Se a terra é bruta em sua forma mais seca, remetendo ao sertão nordestino, por exemplo, também é a que abriga as sementes que geram a vida. Nesse contexto, a exposição “Terra Bruta”, de Jorge Medeiros, na Galeria Plexi, em São Paulo, SP, com curadoria de Kinjin, apresenta o vigor da natureza como força primordial da existência.

 

A imagem de um galho seco que sai de um livro de terra (30 x 65 x 8 cm) aponta para a possibilidade de nascimentos mesmo nos ambientes mais agrestes. A maravilha da vida é que ela se multiplica e, no conjunto da exposição, fragmentos de materiais, como o concreto, e a ação da pintura atestam que a vida continua o seu curso.

 

O artista age sobre os suportes, transformando-os e criando perguntas visuais e existenciais. A vida pode ser árida como um livro fechado no qual surgem novas existências. O conhecimento está em todo lugar. O ser humano nasce da terra e para ela volta; e, na arte, as metamorfoses geram a potência de presenças pelos questionamentos que cada imagem gera e evoca.

 

Oscar D'Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.