A proposta visual é uma inversão da lenda indígena do boto cor-de-rosa que, nas noites de lua cheia, nas festas juninas, se transforma num jovem belo e elegante, emerge das águas amazônicas e, vestido de branco, com um chapéu para esconder as narinas no topo da cabeça, seduz a moça solteira mais bonita das festividades e a leva ao fundo do rio, onde a engravida e a abandona, retomando a sua forma original. Essa narrativa, geralmente usada para explicar a gravidez fora do casamento, ganha, nesta pintura, nova versão. É Frida Kahlo que deixa seus pertences à margem do Rio e mergulha para encantar o boto, que passará por uma eterna transformação. As cores vibrantes aumentam a magia do espaço pictórico. Bambuzais, bananeiras, bromélias, animais, flores e frutas são o cenário em que a artista, rebelde como sempre foi e contrária às convenções, subverte a lenda amazônica.
Esta obra integra a exposição "Imperfeita", realizada pelo Coletivo 284, com curadoria de Clara Afonso.
Oscar D’Ambrosio