O trabalho de tecer fios chamou a atenção do artista visual Michele Angelillo. A obra que ele apresenta traz justamente um pensar sobre um ato – presente no artesanato e reforçado pelo tratamento visual que ele dá à imagem- de grande relevância em personagens referencias da mitologia e da literatura ocidental. Como esquecer Penélope, que fazia a colcha de dia e a desfazia à noite, adiando um indesejado segundo casamento enquanto esperava a volta do amado Ulisses da Guerra de Troia? Como não temer as Moiras, que fiavam, esticavam e cortavam a linha da vida? E como não se apiedar de Aracné, que desafiou a deusa Atená nas artes do bordar e foi transformado em aranha? Todas lidam com fios e, assim como a artesã, têm no ato de fiar, bordar, tecer, esticar ou cortar uma ação de construção da própria existência, com suas alegrias, tristezas, acertos e desacertos.
Oscar D’Ambrosio