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Sertão de Guimarães Rosa, de Monteiro de Barros

Sertão de Guimarães Rosa, de Monteiro de Barros
12/05/2021

Em maio de 1952, o escritor e diplomata Guimarães Rosa realizou uma viagem de 240 km durante dez dias pelo sertão mineiro. Acompanhou uma boiada do seu primo com o objetivo de conhecer melhor a geografia, os costumes e a linguagem da região onde nasceu e sobre a qual escreveu, tornando as experiências individuais em obras que tratam de questões universais.

 

Dormiu em cama de capim e comeu quase que exclusivamente carne seca com toucinho, arroz, feijão e farinha. Observava e perguntava sobre tudo e fazia anotações em uma caderneta que levava pendurada no pescoço. Essa vivência resultou em livros como “A Boiada”, “Corpo de baile” e “Grande Sertão: Veredas”.

 

Baseado nessa jornada do escritor mineiro, o pintor Monteiro de Barros fez a tela “Sertão de Guimarães Rosa”, expressando as cores e tonalidades da luminosidade da região, com seu solo árido e vegetação marcada pelos buritis, com o sol onipresente transformando os verdes eucaliptos em um grupo azulado a dialogar com o céu.

 

No centro de gravidade da tela, aparece a imagem da célebre fita de Möbius, um número oito deitado que está na primeira e na última página do romance “Grande Sertão: Veredas”. A imagem é relacionada à “Lemniscata”, que vem de “lemniscus”, do latim, ou “lemnískos”, do Grego, que representava uma “fita”, pequena faixa ou atadura que aludia ao infinito.

 

No caso de Möbius, a imagem é obtida pela colagem das duas extremidades de uma fita, após efetuar meia volta em uma delas, sugerindo, assim como ocorre com o protagonista da obra literária, Riobaldo, que a travessia da existência nunca é completa e jamais se encerra. Os caminhos da obra literária de Guimarães Rosa e a pintura de Monteiro de Barros indicam essa direção.

 

Oscar D’Ambrosio