Captar a passagem do tempo é um desafio da arte. A fotografia de Debora Rayel Eva congela um instante pleno de mistério. Observá-lo é um ato de indagadora percepção. Trata-se de um momento em que podemos ampliar aquilo que, de alguma forma, já desconfiamos. A imagem evoca representações de uma perna, a sua sombra e marcas na areia. É uma manifestação que se dá em um espaço e tempo finitos. Transmite a sensação de que integramos a história e o universo, mas estamos desconectados de ambos. Falta à perna, a sua parceira. E quem garante que a sombra é de fato a de um elemento corpóreo deste mundo considerado real? A imagem cria um mundo paralelo. E não é isso mesmo que a arte faz? Estabelece mundos pseudo-autônomos que se relacionam com outros, em uma cadeia que nos auxilia a tentar apreender melhor esta caminhada que chamamos vida.
Oscar D’Ambrosio