Sob as palavras “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”, de Paulo Freire, a obra “Infância Roubada”, colagem analógica com papelão e bordado (20,5 cm x 44 cm), de Vitória Kachar, multiplica os seus sentidos. As imagens de um menino e de uma menina caminhando de costas para nós é indagadora. Para onde vão? Qual é o seu destino perante a realidade de trabalhar desde cedo para enfrentar todo tipo de necessidade? E quais caminhos vão percorrer nessas andanças? O bordado e as flores indiciam possibilidades de momentos de delicadeza e lirismo, mas as frestas abertas no papelão, com a sua horizontalidade, indiciam um cotidiano de muito trabalho e pouca esperança. As oportunidades de escape de um trágico círculo vicioso de miséria se abrem para exceções e, como alerta Paulo Freire, só ações em conjunto resultam na construção de justiça social.
Oscar D’Ambrosio