A pintura realizada em óleo sobre tela de Antonio Cavalcante relaciona dois mundos, o interno e externo. Os diálogos se instauram em diversas dimensões, com foco nos aspectos humanos de um momento histórico de transformação. Se o lado direito apresenta uma paleta de cores mais quentes, com o homem parcialmente nu, pensativo em potência e uma mão com um relógio de pulso que pode aludir ao tempo que parece ter parado com a o isolamento social motivado pela pandemia; o esquerdo, com tonalidades mais frias, traz o desejo e a atmosfera onírica de conquistar o espaço externo, onde os riscos à vida imperam. Os espaços privados e público historicamente tiveram essa dualidade entre o que é reservado e o que pode explodir e ultrapassar barreiras de acordo com as emoções e as oportunidades. Nesse sentido, as cabeças pintadas por Antonio Cavalcante talvez possam, aos poucos, se reencontrar.
Oscar D’Ambrosio