A música “Carta de amor”, de Paulo Cesar Pinheiro, imortalizada na voz de Maria Bethânia, começa com os seguintes versos: “Não mexe comigo que eu não ando só/ Eu não ando só, eu não ando só/ Não mexe comigo”. Ela é a principal porta de entrada do trabalho de Daniele Bloris intitulado “"Sou como a haste fina que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta", que estão também na letra. Realizada com nanquim sobre papel, a obra, de 2018, representa visualmente traços que contém força e resistência, características cada vez mais importantes neste universo de pandemia. Existe no gesto da artista uma rica ambiguidade entre a capacidade de se vergar, mas de não se quebrar. Por pior que seja o momento e maior que seja a dor, cada ser humano, e a coletividade como um todo, tem a capacidade de resistir e de se reconstruir – e a arte ajuda muito nesse processo de resiliência.
Oscar D’Ambrosio