A obra “A água que apaga o fogo das queimadas”, de Elizabeth Kramer, em uma primeira visão, remete ao poder das águas para mitigar as queimadas que causam destruição na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. No entanto, a intensidade cromática do trabalho, que vai dos tons mais escuros aos mais claros, permite uma série de ilações simbólicas. O fogo remete, por exemplo, à sarça em que Moisés teria ouvido a Voz do Senhor, no Velho Testamento, e a água, em forma de chuva, indica o seu potencial transformador, enquanto elemento da natureza que pode salvar vidas, sendo a fonte da existência. As gradações do azul do céu com o efeito de transparência da água resultam em uma batalha simbólica e arquetípica entre a água e o ar contra o fogo que consome a terra. Não há nesse duelo vencedor ou perdedor, mas uma busca permanente do equilíbrio para que a natureza se manifeste em harmonia. Oscar D’Ambrosio