Oscar D'Ambrosio

Há algo de misterioso em todo espantalho. Geralmente feito de roupas velhas e chapéu, recheado ou não de trapos, palha, estopa ou outros materiais, sua função é simular a presença humana em plantações para espantar aves. Esse simulacro de ser humano, cuja eficácia e eficiência são questionáveis, pois os animais tendem a se habituar com eles, ganha uma expressão visual na aquarela de Julia Pilla. A presença de elementos formais e de cor dentro do peito do ser inanimado levam a um diálogo visual com a natureza que ele protege, e o sorriso, que se confunde com uma máscara e com a expressão de um palhaço, geram dramaticidade, complementada com a atmosfera do céu e com a presença das aves. O espantalho surge assim como um ser quase humano, mas que também, de alguma maneira, monstruoso. Há nele restos de vida e de perigo? Ou é apenas um ser decadente de quem devemos ter pena? Oscar D’Ambrosio