O conto “O Aleph”, de 1949, que intitula o livro homônimo de Jorge Luis Borges, narra como um homem enfrenta a possibilidade de conhecer um ponto do espaço, o Aleph, que reuniria todo o universo. Ele estaria no porão de um casarão situado em Buenos Aires, prestes a ser demolido.
O nome desse ponto vem da letra inicial do alfabeto hebraico, que corresponde, portanto, ao “alfa” grego e ao “a” dos alfabetos romanos. Seu desenho, em grego, é o de um touro (“aluf”, em hebraico antigo, que significa "Mestre" ou "Senhor", como aponta o livro do Apocalipse, em que Jesus se refere a si mesmo como sendo o “Alef” e “Tav” (“alfa” e “ômega”), ou seja a primeira e a última letra do alfabeto, o começo e o fim de tudo.
A imagem “Aleph”, de Luiz Palma (@luixpalma), aponta para esse ser humano que olha para o fundo de uma parede em busca do Aleph. A cena evoca ainda a célebre caverna platônica, na qual as pessoas estão viradas de frente para uma parede onde veem apenas as sombras (aparências) do mundo das essências (real), que está na luz que vigora fora da penumbra.
Para virar o corpo e sair da trevas, a recomendação do sábio grego é a filosofia, caminho não só para encontrar a própria sabedoria, mas para indicar o caminho para os outros humanos. A arte, como proposta por Luiz Palma, pode ser uma vereda a percorrer para que que cada um e, por consequência, a Humanidade, encontre seu Aleph.
Oscar D'Ambrosio é Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.