A arte naif tem, entre suas principais características, o uso de cores vivas em obras que apresentam imaginação, estilização e poder de síntese peculiares. Em linhas gerais, pode-se dizer que o seu resultado visual brota do inconsciente coletivo, mantém-se em constante renovação e se deixa penetrar por influências eruditas, embora conserve sua natureza própria.
Sabedoria e sonho se irmanam em obras difíceis de definir sob uma única catalogação. O autodidatismo leva a um aprendizado empírico adquirido dentro de uma prática marcada pela espontaneidade, liberdade de expressão e informalismo, ou seja, ausência de aspectos formais acadêmicos, como composição e perspectiva tradicionais e respeito às cores reais.
Nas pinturas de Edmar Fernandes, nascido em Chã de Alegria, Pernambuco, em 1981, impressiona a quantidade de informação que é possível encontrar em cada um de seus trabalhos, principalmente porque cada detalhe é realizado com precisão e delicadeza. Existe geralmente um grande número de elementos e uma realização esmerada.
Suas telas apontam para a riqueza da cultura de Recife - onde o artista mora, do Estado de Pernambuco e do Brasil, com valores pictóricos universais na forma de dispor as cores e na profusão de imagens. A linguagem apresenta um resultado visual de grande impacto, que não deixa o observador indiferente.
O que mais e melhor impressiona no trabalho de Edmar Fernandes é o despojamento e ousadia com que pinta. Suas propostas visuais lidam corajosamente com cores intensas dispostas em conjuntos em que o olhar percorre vários trajetos internos do quadro sem cansaço e com maravilhamento.
Oscar D'Ambrosio é pós-doutor e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, mestre em Artes Visuais, jornalista e crítico de arte.