A discussão entre aquilo que se vê e que não consegue ser visto está entre as mais importantes da arte contemporânea. De certa maneira, criações visuais funcionam como embalagens. Mostram algo, mas o principal, a sua essência, aquilo que discutem e que as conceitua, está escondido à espera de ser descoberto.
Os cinco trabalhos que compõem o conjunto “Encoberto”, de Sidney Lacerda, são cascas que guardam segredos. Realizados em madeira, “encobrem” a multiplicação de sentidos que suas formas oferecem. Cada um deles estimula diversas interpretações, dependendo das memórias afetivas e da imaginação de cada um.
Formas que aludem a um violão, a uma letra “T” em grande escala, a uma Torre de Babel, a uma Arca de Noé e a uma gaiola pendurada no espaço podem adquirir outros significados. Depende de quem vê e como se relaciona com a imagem. Afinal, a pergunta natural é o que está “coberto” por cada peça. E, se nada houver, a percepção se amplia.
A madeira, apresentada em sua rusticidade, tem a sua própria história. É um ser nu. Despida de preconceitos, pela sua simplicidade, ela, em forma de obra de arte, estimula saberes e pensares a se integrarem. Cada peça apresenta a autonomia de poder ser aquilo que o observador deseja, sem certezas, em um processo de dúvidas e questionamentos constantes.
Oscar D’Ambrosio