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Pílula visual: Curumim, guardador de memórias

Pílula visual: Curumim, guardador de memórias
11/02/2021

Denilson Baniwa traz uma oxigenação essencial para a arte brasileira. Seu olhar, ao deslocar o eixo da tradição judaico-cristã ocidental, obriga a rever conceitos cristalizados em nossa tradição visual. A sua origem não o deve colocar como um artista indígena limitado a uma temática étnica. Ele é um criador visual de origem indígena que, em nome de um deslocamento do olhar, lança seus olhares sobre o Brasil e sobre a cultura global sob a perspectiva de retirar todos, inclusive ele mesmo, de qualquer zona de conforto.

 

“Curumim, guardador de memórias” (tinta acrílica sobre tecido, 1,60 x 2 m) tem como ponto inicial uma célebre fotografia de Steve Jobs, em posição de lótus, com um computador no colo. A, imagem, realizada por Norman Seeff, foi capa da revista Time de 2011, quando o cofundador e ex-CEO da Apple faleceu.  

 

A imagem de Denilson pode ser lida justamente como a apropriação pela cultura indígena do computador e, por extensão, da tecnologia, como um local de armazenamento das tradições, representadas, por exemplo, nos objetos que estão à direita e à esquerda do jovem índio. Essas manifestações culturais, sejam utilitárias, religiosas ou estéticas, se mantêm. Portanto, é sinalizado que o índio do presente precisa dominar e acalentar o que existiu em sua cultura e existe globalmente para, de fato, modelar o que existirá.

 

Oscar D’Ambrosio