A presença de crânios em obras pictóricas vincula-se a uma tradicional simbologia. São vistas como representações da morte, dentro de uma concepção de que toda vaidade não tem sentido, porque aquilo que nos iguala é justamente a finitude. A sua presença ocorre principalmente quando se deseja discutir o conceito da transitoriedade da beleza. Maurity Damy coloca esses referenciais em um novo contexto na obra “Efêmero”. O crânio está em meio a dois pés em salto alto plenos de vida e de sensualidade. As fronteiras entre a exaltação da existência e o seu término são relativizadas, em um quadro que remete justamente a um diálogo entre viver e fenecer. Os pés e o salto alto, fetiches postos ao lado da representação do cru final da jornada terrena, geram, numa atmosfera de contraste entre claro e escuro, que remete ao Barroco, estranhamento, um dos papeis da arte que Maurity Damy concretiza.
Oscar D’Ambrosio