O desenho de Vera Goulart é um grito do gesto. Suas obras transmitem uma relação com o mundo marcada pela sensibilidade. Isso não significa delicadeza, mas sim uma paixão pelo movimento e pela arte como maneira de expressão que ultrapassa o real e lava para outra dimensão. Um dos fascínios da criação é justamente que ela coloca, tanto quem a faz como quem a observa, em outra esfera, difícil de definir. O mundo do entorno se torna algo diferente, porque o seu desenho liberta a expressão. O que está representado ganha autonomia e pode ser qualquer coisa ou simplesmente não precisa ser algo. O não-ser é uma maneira de ser. O dizer do desenhar está justamente em sua capacidade de ser algo único, uma impressão digital que encanta porque nos avisa o tempo todo que é possível estar em muitos lugares pelo sonho e pela capacidade de colocar no desenho o indizível da vida.
Oscar D’Ambrosio