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Pílula visual: Isto não é um cachimbo, de Christoph Niemann

Pílula visual: Isto não é um cachimbo, de Christoph Niemann
03/02/2021

Ilustrador que constitui uma referência pela maneira como pensa, pratica e se insere na arte contemporânea, o alemão Christoph Niemann atua também como designer gráfico e autor de livros infantis. É possível acompanhar seu trabalho em @abstractsunday. A trajetória do artista também está disponível em um episódio da série “Abstract: The Art of Design”, disponível na plataforma Netflix.

A imagem que acompanha este post é uma recriação da obra de René Magritte conhecida como “Ceci n'est pas une pipe” (“Isto não é um cachimbo”), de 1929, que integra a série “A Traição das Imagens” (em francês, “La trahison des images”). O pintor belga discute como uma pintura não é aquilo que se representa, mas uma imagem.

O cachimbo precisa então, como alerta o artista, ser visto como outra coisa, um objeto artístico. Não é um cachimbo, por mais precisa que seja imagem, mas uma criação artística. Na obra de Niemann, um fone de ouvido ocupa a posição do cachimbo. A frase é mantida, e as conotações e reflexões se multiplicam com a ressignificação daquilo que permite usar o sentido da audição em algo que substitui a imagem do que é usado para sentir um sabor.

Niemann também mostra a capacidade de fundir o clássico ao contemporâneo quando, em 2019, lançou Traffic Pong, obra de videoarte em que retoma o célebre Pong, o primeiro videogame lucrativo da história, em que as duas barras laterais verticais e o quadrado, que funciona como bolinha, são colocados (pasmem!) sobre uma vista aérea da icônica Avenida Paulista, em São Paulo, SP, na qual os carros interagem no andamento do jogo.

O artista alemão é um defensor do conceito de que, pelo menos para ele, não há genialidade no processo de criação. Tudo é resultado de trabalho e disciplina. Para criar suas obras em que parte de objetos cotidianos e os coloca em novos contextos, como fez com o fone de ouvido, declara que fica horas olhando para aquilo que escolhe, buscando sínteses e recorrendo a referências. Consegue assim resultados extraordinários.

Oscar D’Ambrosio