Há trabalhos que encantam pela sua precisão e acabamento. É o caso de “Bull”, de Fernanda Victorello. Realizado com tinta acrílica, grafite, lápis aquarela, verniz, pregos e linhas sobre madeira, questiona, em 37 x 28,5 cm, de maneira consciente ou inconsciente, uma síntese das impressões que uma ossada pode provocar. Muito além da célebre pergunta de Hamlet (“Ser ou não ser? Eis a questão”) perante um crânio humano, a imagem da cabeça de um boi reduzida a seus ossos e com pregos ligando umas linhas às outras, remete ao sentido, caso exista, da própria vida como um todo. A questão central passa a ser o tempo. Estar perante a representação daquilo que restou de um animal estimula a pensar no processo acurado de criação da imagem, pois quem cria a arte, assim como aquilo que é criado, é escravo da passagem dos segundos. É pela arte que muitas vezes uma pseudo imortalidade se instaura.
Oscar D’Ambrosio