O número de artistas é infinito, mas é menor o número daqueles que se tonam mitos enquanto vivos ou postumamente. Um exemplo é o escultor Stanisław Szukalski (1893 - 1987). Polonês radicado nos EUA, teve a maior parte de seu acervo destruído na devastação das forças nazistas de seu país natal, mas peças e fotos preservadas mostram uma linguagem peculiar.
Ele desenvolveu uma mescla de referências que incluem desde elementos eslavos a astecas, incluindo numerosas outras vertentes. Desenvolveu, ainda criança, um alfabeto próprio, e, após a Segunda Guerra, nos EUA, criou o Zermatismo, teoria pela qual concluiu que todas as culturas tinham apenas um berço: a Ilha de Páscoa.
O documentário “A Vida e Arte de Stanisław Szukalski!” (2018), disponível na plataforma Netflix, revela como artistas do underground ligados a HQs, em Los Angeles, descobriram por acaso aspectos insuspeitados daquele que, para a comunidade local, não passava de um anônimo idoso polonês. Começaram então a recuperar a sua história.
O talento dos projetos de Szukalski, a sua capacidade de conectar referências e de analisar esculturas era diretamente proporcional ao seu egocentrismo, a um nacionalismo que o levou a se associar a regimes com discursos extremamente nacionalistas e a ter posturas antissemitas, posteriormente revistas.
Controversos em suas opiniões, como o desprezo a Picasso e aos poloneses de modo geral, Szukalski teve horas de depoimentos filmados por um admirador que viria a ser o responsável pelo seu legado – e ele, junto com alguns amigos, lançou as cinzas do artista e da esposa na Ilha de Páscoa.
O documentário é uma excelente oportunidade de mergulhar no processo criativo de um artista ímpar em sua visão da arte e do mundo, mas, principalmente, permite um aprofundamento no universo mental de um discurso plástico e existencial exagerado, que inclui desde as peças bem realizadas até seus sonhos e pesadelos grandiloquentes.
Oscar D’Ambrosio