Um dos desafios da fotografia é o de mostrar, por novos olhares, aquilo que está ao nosso redor e que muitas vezes não observamos. Essa é a proposta da série “Lenuto”, de Paulo Marcos M. Lima. Ele se debruça sobre o Túnel Rebouças, no Rio de Janeiro, RJ, e traz detalhes insuspeitados de suas paredes, vistas como partes de uma caverna de pinturas rupestres.
Inaugurado em 3/10/1967, projetado pelo engenheiro Antonio Russell Raposo de Almeida, o Túnel liga os bairros do Rio Comprido à Lagoa, conectando diretamente as zonas Norte e Sul, evitando o Centro. O nome homenageia os irmãos André e Antônio Rebouças Rebouças, que se destacaram no Segundo Reinado com obras de infraestrutura viária e de saneamento.
São 2,8 km de comprimento, em duas galerias paralelas, cada uma com nove metros de largura. O trabalho do fotógrafo lida com esse espaço como um interregno entre a luz que existe antes da entrada e após a saída. Cria-se ali um universo próprio, especial, irreal, um intervalo do cotidiano urbano.
As imagens de Paulo Marcos M. Lima têm assim o saber de uma arqueologia urbana. Resgatar fragmentos de imagens sugeridas nas paredes do Túnel é uma metafórica maneira de trazer para a consciência individual e coletiva elementos urbanos que se escondem no dinamismo e na escuridão real e simbólica dos rastros e vestígios que estão nos túneis urbanos da inconsciência.
Oscar D’Ambrosio