Uma das maravilhas da arte é a sua relação com outras áreas do conhecimento, que permite um estudo de significados simbólicos. A aquarela sobre papel chamada “Dente-de-leão”, de Marcia Nunes, por exemplo, carrega alguns saberes populares que se manifestam visualmente e nos levam a aumentar o prazer visual do trabalho.
A imagem apresenta nuvens, céu, dentes-de-leão, colinas, vegetação e chão de terra, elementos integrados em faixas horizontais sugeridas de cima para baixo. O destaque vai para as flores, com seus caules, quatro deles bem longos e um em escala mais próxima do real, nas mãos de cinco figuras do sexo feminino.
Tradicionalmente, a flor é associada à esperança, à liberdade e ao otimismo. Em boa parte, isso se deve ao fato de suas pétalas, seja pelo vento ou pelo sopro humano, se disseminarem com facilidade. A ação é muitas vezes associada a brincadeiras infantis, como a de pensar no amado e soprar a flor para que as pétalas conduzam a mensagem.
Conta-se ainda que, quando os seres humanos foram criados, as fadas precisaram se esconder rapidamente. Com seus vestidos longos, elas não sabiam para onde ir e se transformaram nos dentes-de-leão. Como a planta é muito resistente, crescendo em qualquer fresta, também é um índice de força. Por isso, o mítico herói grego Teseu teria se alimentado apenas dela por 30 dias antes de enfrentar e vencer o temível Minotauro no labirinto de Creta.
A metáfora do voar e de ter força para isso é ainda utilizada no sentido de que cada pessoa, para crescer emocionalmente, deve fazer como as pétalas do dente-de-leão, libertando-se do conhecido para mergulhar no desconhecido do espaço. Assim, como mostra a imagem de Marcia Nunes, de certa forma, crescer emocionalmente significa libertar as pétalas e deixar a segurança da inocência para viajar por todos os elementos que integram o mundo.
Oscar D’Ambrosio