Diferentes formas de arte dialogam entre si como pessoas. "Menino de rua dormindo sobre poema de Manuel Bandeira", óleo sobre papel de Alex Carrari, mostra como isso é possível. Tudo começa com uma página do livro “Lira dos cinquent'anos" do poeta pernambucano em que está o poema “Acalanto de John Talbot", datado de 8/8/1942:
Dorme, meu filhinho, Dorme sossegado. Dorme que ao teu lado Cantarei baixinho. O dia não tarda… Vai amanhecer: Como é frio o ar! O anjinho da guarda Que o Senhor te deu, Pode adormecer, Pode descansar, Que te guardo eu.
Ao que se sabe, Bandeira fez o delicado poema para uma criança que conheceu nas redondezas de seu universo afetivo cotidiano, na Rua do Curvelo, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, RJ. O artista visual se apropria literalmente da obra e do poema para dar uma nova leitura, em que coloca um menino de rua pintado sobre o texto. É o que Alex chama de “expressionismo mágico”, um falar pleno de energia, mas com a magia de um sutil mistério.
As palavras do poeta ganham assim novas significações e sentidos. Se, para o escritor, até “o anjinho da guarda” tem o direito de descansar graças ao cuidado que o “eu” do poema oferece, Alex Carrari mostra um menino aparentemente indefeso que as palavras de Bandeira parecem proteger. Que assim seja... Oscar D’Ambrosio