É comum perguntar como a arte pode tratar de questões sociais sem ser explícita. A instalação “KasaKosovoKasa “, de Antonio Dias (1944 - 2018), que integra a exposição “Antonio Dias: Derrotas e Vitórias”, no MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP, é um exemplo de projeto bem realizado.
Há uma narrativa sutil e cotidiana que permeia o conceito do trabalho. O artista fotografou e ampliou a pele do próprio rosto, destacando os pelos que, pela força da natureza, continuam a crescer, sejam cortados ou não, após o cotidiano ato caseiro de fazer a barba e o bigode.
A imagem é colada em dez cilindros de PVC sem fim ou começo determinados que ficam suspensos como pingentes. A impermanência dessas colunas móveis dialoga com o dinâmico renascer dos fios de cabelo.
Criada em 1996, a obra, como indica o título, aponta para a Guerra de Kossovo, região situada na antiga Iugoslávia. O conflito, motivado por questões étnicas e religiosas entre diversos grupos, resultou, durante os anos 1990, em milhares mortos e refugiados, em episódios que chocaram o mundo e desnudaram as numerosas disputas pela região.
O conceito dos cilindros com as imagens dos pelos que não param de crescer, mesmo que sejam retirados, encontra seu paralelo na continuação das irracionalidades das guerras. Se os pelos ressurgem mesmo após serem arrancados, a belicosidade em certas regiões do planeta parece não ter fim, pois as rivalidades são tão arraigadas quanto à raiz dos pelos na pele. Em ambos os casos, há um processo em contínuo andamento.
Oscar D’Ambrosio