È comum definir a arte como uma representação do real, algo que, construído por um criador, interpreta o mundo. Nesse contexto, entende-se tradicionalmente a comunicação, por meio de uma obra de arte, como um sistema com três ingredientes: artista (quem cria), obra (o que foi criado) e público (quem observa).
A pintura “Templo de Salomão”, de Roberto Moura, como qualquer outro trabalho, pode ser pensada sobre esses diversos aspectos, mas, significativamente, ao ser publicada em www.facebook.com/momentodarte/ os comentários recaem muito mais sobre o assunto do que sobre o trabalho propriamente dito.
Dentro da estética que se convenciona chamar de arte naif (do francês “ingênuo), geralmente ligada a artistas autodidatas, sem formação acadêmica em artes visuais, a pintura retrata o Templo de Salomão, em São Paulo, SP, réplica do homônimo, citado na Bíblia.
Construída no bairro do Brás, a edificação foi inspirada em características do Segundo Templo de Jerusalém, destruído por Nabucodonosor II da Babilônia em 586 a.C., e abriga a sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus.
Os comentários dos internautas são contra ou a favor da religião ali professada e sobre a fidelidade do projeto arquitetônico em relação ao modelo bíblico. Poucos veem o trabalho como uma representação criada por um artista. É discutida a fé que a construção representa e a sua fidelidade perante o passado, mas não como o artista realizou a sua proposta visual.
A obra de arte, enquanto representação, segue uma composição do espaço realizada com formas, linhas, cores, tonalidades e outros aspectos que lhe são intrínsecos enquanto objeto visual. Discutir somente o que é mostrado em lugar de como isso é feito desvaloriza o quadro enquanto criação de um artista. Passa a ser muito mais um debate religioso ou arquitetônico do que sobre arte, sendo o ideal que essas diversas formas de conhecimento interajam para um visão mais ampla da obra.
Oscar D’Ambrosio