Autômatos são seres fascinantes. Na cultura ocidental, uma referência obrigatória é o filme “A Invenção de Hugo Cabret” (2011), de Martin Scorsese, baseado no livro homônimo de Brian Selznick. A narrativa é sobre um órfão de 12 anos que vive solitário numa estação ferroviária de Paris, tentando completar o trabalho do pai: fazer funcionar um autômato supostamente capaz de escrever uma mensagem.
O lirismo do filme encontra um paralelo no trabalho visual de Du Salzane (@eduardosalzane). A partir de 2016, ele começou a utilizar madeira de reuso para criar autômatos, ou seja , engenhosas máquinas com recursos mecânicos que lhes permitem realizar alguns movimentos. Trata-se de uma pesquisa visual que combina a arte, pelo lirismo do resultado, com a técnica, pela aplicação de princípio da engenharia mecânica.
O resultado é encantador, no sentido que nos remete à infância, e poético, por que as construções realizadas são de uma sensibilidade ímpar. É possível enxergar, em cada uma delas, uma narrativa. “Como nascem as flores”, por exemplo, que acompanha este post, maravilha por lidar, por meio de elementos mecânicos, com a poesia que introduz a natureza em um mundo muitas vezes tecnológico que parece ser a única realidade possível.
Trabalhos como o de Du Salzane, que realizam a intersecção entre a arte e ciência, são mais do que um respiro para a realidade contemporânea. Podem e devem ser vistos como um caminho para construir alternativas que abram portas de inovação em que a tecnologia e o sentimento caminhem lado, num metafórico casamento entre coração e cérebro pelo bem do ser humano.
Assim, o autômato de Hugo Cabret, pela arte e engenho de Du Salzane, pode continuar a escrever as suas mensagens para a humanidade.
Oscar D’Ambrosio
@gravurar