Sabemos que os afrescos, painéis e pinturas das igrejas católicas funcionavam como imensas histórias em quadrinhos que auxiliavam a comunicar para uma população em grande parte analfabeta as narrativas e simbologias do cristianismo. As obras do artista plástico Eduardo Kobra (@kobrastreetart), séculos depois, realizam, em algumas ocasiões, uma função semelhante, porém, em outra dimensão.Uma manifestação disso é o recente mural do artista em uma escola de Sorocaba, SP. Ele pintou um painel com 14 metros de altura com seis prateleiras com um total de 250 livros. A novidade é que essas obras literárias foram selecionadas por internautas, perguntados sobre quais títulos deveriam estar no trabalho.Os livros mais solicitados foram “Iracema” (1865), de José de Alencar, e “Sagarana” (1946), de Guimarães Rosa. São obras, classificadas, respectivamente, dentro da primeira geração do Romantismo e da terceira do Modernismo. Significativamente, expressam aspectos essenciais da cultura brasileira, como o indianismo formador do nacionalismo e o regionalismo sertanejo universalista.Em um contexto nacional que, segundo o Instituto Pró-Livro, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores nos últimos quatro anos, a imagem de Kobra retrata, com seu estilo realista e cores vibrantes, um menino subindo a escada para alcançar uma prateleira de livros. As proporções gigantescas da obra, assim como acontecia na Idade Média, fascinam.Tomara que a iniciativa visual possa ser uma nova porta de entrada para a literatura. Dessa maneira, o muralismo urbano de Kobra pode contribuir para um estimulo a uma retomada da leitura, principalmente pela juventude que ama os seus murais espalhados pelo Brasil e pelo mundo.Oscar D’Ambrosio