As imagens criadas por Valdir Rocha são sempre interrogativas. Os desenhos, realizados, em 2020, durante a pandemia, e publicados no livro “Quintus”, atestam uma interpretação do mundo que se relaciona também com as obras anteriores do artista. Existe um universo em constante transformação nas propostas visuais do criador.
Feitos com China marker sobre páginas graficamente ampliadas do livro “Nós”, também de Valdir Rocha, publicado em 2019, os trabalhos dialogam ainda com o que vemos em “Sós” (2010), “Confidências” (2013) e “Pós” (2015). O nome “Quintus”, nesse contexto, traz em si o conceito de ser a quinta parte dessa saga, além de uma associação com o “Quinto dos Infernos” que o novo coronavírus leva a humanidade a enfrentar.
O livro é dito de autoria de “Ninguém, Todo Mundo e Valdir Rocha”. Nada mais lógico quando as “carinhas” instauradas pelo autor nos acompanham nestes cinco livros, além de suas representações em outras linguagens, como esculturas e gravuras. A existência delas depende dessas três dimensões: geração espontânea do artista isolado do mundo na pandemia (com nenhuma participação externa); somatória de todas as experiências recebidas antes e durante o período (“Todo Mundo”); e filtro do artista da experiência do isolamento e da convivência real pré-coronavírus e virtual durante o mesmo período (Valdir Rocha).
O “Quintus” se dá sobre o “Nós”. Como o Inferno está dentro de todos nós, podemos entender os rostinhos de Valdir Rocha como expressões que nos impressionam pelas suas múltiplas facetas, pelos seus cheios e seus vazios internos e no entorno. Elas estão assim dentro de cada um de nós, prontas a se desenvolver e a ocupar os mundos conhecidos e desconhecidos.
As pupas, estágio intermediário entre a larva e o adulto de luminosos seres como borboletas, que aparecem na obra, funcionam, nesse contexto, como o potencial criativo de cada um de nós. Está em nosso coração (metáfora da sede das emoções) e em nosso cérebro (ícone consagrado da razão) a síntese da larva que constitui os adultos multifacetados, com os aspectos interiores e exteriores que Valdir Rocha apresenta no “Quintus” e que residem em todos “Nós”.
Oscar D’Ambrosio