Há artistas que se identificam com certos temas. Marc Chagall (Vitebsk, atual Bielorrússia, 1887 - Saint-Paul-de-Vence, França, 1985) possui, por exemplo, uma ampla produção sobre o circo. Sabe-se que, quando criança, na Rússia, nutria fascinação pelos acrobatas viajantes que via nas feiras de vilas. Em Paris, o negociador de arte Ambroise Vollard o acompanhava regularmente o circo. Na plateia, Chagall desenhava. O que o atraia? Provavelmente a atmosfera fantástica e colorida, na qual havia as mais variadas nuanças. Ele chegou a declarar: “Para mim, um circo é um show de mágica que aparece e desaparece como um mundo”. O onírico do artista certamente era estimulado pelas roupas estranhas e maquiagens extravagantes do picadeiro. A litografia colorida “O Circo com o Palhaço Amarelo”, de 1967, apresenta o protagonista em destaque pelo tamanho e pelo uso do amarelo brilhante que contrata com o fundo em tons rebaixados. O público é esboçado em torno do palco, enquanto o palhaço olha diretamente para o observador da obra. A mão esquerda direciona o nosso olhar para a direita, em concha sobre a boca, como se fosse nos contar um segredo. O que será que o Palhaço Amarelo vai nos dizer? Talvez que Chagall tenha percebido que a vida é um circo na qual representamos infinitos e intercambiáveis papeis? Oscar D’Ambrosio