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Pílula visual: Memória e sustentabilidade

Pílula visual: Memória e sustentabilidade
16/01/2021

Memórias, sejam individuais ou coletivas, e sustentabilidade são dois temas muito importantes na arte contemporânea. Lidar com os dois simultaneamente é um desafio. Cildo Oliveira é um criador visual que consegue navegar por essas dificuldades, transformando o pessoal em universal.

A sua série “Narrativas Míticas”, por exemplo, da qual apresentamos um exemplo neste post, é feita sobre papel que ele mesmo fabrica a partir de saquinhos de chá inglês. As delicadas folhas resultantes recebem mapas, paisagens, frutos e personagens da Recife do século XVII, período em que os holandeses ocuparam a cidade. Documentos da época ganham então um novo significado no século XXI.

Outro trabalho do artista nessa linha é a série “Peles do Rio”, em que ele produz o papel a partir da celulose e, tendo como motivação o célebre Rio Capibaribe, essencial nas narrativas de Recife, cidade natal do artista, mergulha na cultura indígena da região, destacando habitantes, vegetação, animais e mitos.

Radicado em São Paulo, SP, o artista recupera a história recifense de uma maneira que a universaliza. Ao fazer os papeis, é como se estivesse se refazendo e, ao lidar com imagens do passado, revisita as narrativas locais. Nessas duas vertentes, reconta, de maneira poética e sustentável, uma trajetória do existir que é do seu Estado, da sua cidade e dele – e que, pela sua arte, passa a ser de todos nós.

Oscar D’Ambrosio