Muitas vezes se diz que somos um país sem memória, ainda mais quando se trata de homenagear artistas. Nesse sentido, o trabalho de Rosa, de Natal, RN, feita sobre quatro caixinhas de fósforo, resgata a obra de Elias dos Bonecos (1931 – 2008), que ganhou reconhecimento no Brasil e no exterior pelos bonecos que realizava e colocava às margens do Rio Piracicaba, em São Paulo.
Exposto na Casa do Povoador naquela cidade, que também celebra a obra do artista local, o trabalho de Rosa destaca António Corrêa Barbosa, que fundou, em 1/8/1767, a povoação que se transformaria na cidade de Piracicaba, e teria morado no local hoje conhecido como Casa do Povoador. Próximo a ela, está, o marco do bicentenário da cidade (1/8/1967), também representado pela artista.
Rosa também mostra Elias, quando menino, fazendo telhas e tijolos. Com o passar dos anos, começou a criar bonecos para a Festa de Malhação do Judas e depois começou a colocar as suas criações às margens do Rio. Utilizava galhos de árvores, pedaços de arame, borracha de pneu, restos de tapeçaria, madeira, roupas velhas, jornais e trapos, além de outros materiais retirados do próprio rio, num processo contínuo de reaproveitamento, reciclagem e ressignificação intuitiva.
Acredita-se que ele tenha feito mais de 3 mil bonecos, sobre diversos temas, como alertas contra a poluição, procissões do Divino Espírito Santo, homens jogando truco, pescadores, operários, camponeses, mulheres trabalhando ou com criança no colo, Judas no pau-de-sebo, bêbados, casais dançando e amigos abraçados.
Como aponta Rosa, Elias, fiel à suas raízes populares e à sua inspiração no cotidiano, se vivo estivesse, certamente colocaria em seus bonecos máscaras como forma de alertar para a proteção contra o novo coronavírus.
É exatamente isso que faz a artista em suas pinturas sobre as caixinhas de fósforo. Desse modo, dá continuidade ao trabalho do Mestre Elias. Com sua arte, ela lembra e eterniza o processo criativo de um artista que estreitou laços entre a natureza, as pessoas e o seu próprio imaginário.
Oscar D’Ambrosio