A fotografia pode mergulhar no coração de uma cidade, vislumbrando as mais diversas manifestações culturais. É o que faz André Arruda em sua pesquisa visual sobre os bate-bolas, também chamados de Clóvis (uma deturpação do inglês “clown”) no Rio de Janeiro, RJ. A tradição carnavalesca teria origens justamente nos palhaços da Folia de Reis, nos bailes de máscaras franceses e, para alguns, nas fantasias do período medieval europeu.
O nome teria vindo do Brasil Colonial, quando escravos libertos perseguidos injustamente pela polícia se reuniam em grupos com os rostos cobertos por máscaras e, para mostrar seu poder de incomodar e transformar a sociedade, batiam no chão bolas feitas a partir de bexiga de bois, hoje, em muitos casos, substituídas por balões amarrados na ponta de varas, que funcionam como curiosos cetros.
A tradição, declarada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, em 2012, como Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial, se faz presente hoje principalmente nas Zonas Norte e Oeste e Baixada Fluminense, onde o funk começou a ocupar o lugar do samba. Como mostra o trabalho de Andre Arruda, as fantasias costumam cobrir o corpo todo, inclusive a face, e se assemelham hoje muitas vezes a uma espécie de “bicho papão”, com um algo de monstro.
Infelizmente, a manifestação popular, nos últimos anos, acabou sendo associada a alguns atos violentos e conflitos armados. A pesquisa do fotógrafo, também nesse sentido, é cultural, social e visualmente importante e instigante para que as tradições sejam preservadas e renovadas dentro das dinâmicas do que é relevante para a comunidade.
Oscar D’Ambrosio