"Diva", uma escultura de 33 metros de altura, 16 m de largura e 6 m de profundidade, recoberta por concreto armado e resina, instalada na Usina de Arte, em Água Preta (PE), de Juliana Notari, vem causando grande repercussão neste ano. Infelizmente, não se trata de uma discussão sobre o seu teor artístico propriamente dito, mas sim um debate com um viés moralista por enfocar a sexualidade feminina.
A imagem de uma grande abertura vermelha em meio ao que foi uma usina de cana-de-açúcar vem recebendo críticas por visões que consideram o trabalho apenas como uma vulva gigante que alude ao sexo, deixando de lado outras chaves de interpretação, como a que remete a uma grande ferida na natureza, já que a área foi devastada pela monocultura de cana.
Outra possibilidade de análise está na reflexão sobre o patriarcado e a violência que imperou contra as escravas e trabalhadoras mulheres, principalmente na zona rural, ao longo da história nacional, num processo que culmina hoje com os feminicídios na sociedade machista brasileira e, no caso da obra, especificamente na cultura nordestina.
Além dessas outras conotações apontadas, a presença da vagina em obras de arte não é novidade. Basta lembrar, entre outras, do célebre quadro “L'Origine du monde” (“A Origem do Mundo”), de 1866, pintado por Gustave Courbet a pedido do diplomata turco otomano Khalil-Bey, colecionador de imagens eróticas. Exposta no Museu d'Orsay, considerada por muitos pornográfica, a obra representa o sexo e o ventre de uma mulher, mas simbolicamente, essas áreas do corpo não são justamente a guarida da vida de todos nós?
Nesse contexto simbólico, a “Diva” de Juliana Notari, artista que, em seu trabalho visual, desde 2003, lida com questões de gênero e da violência dos corpos, merece – e muito – ser discutida, não execrada por qualquer tipo de radicalismo. É no diálogo que a razão se estabelece perante um mundo de extremos.
Oscar D’Ambrosio