Em março de 2020, o site britânico de notícias The Guardian noticiou que o artista visual australiano Anthony Lister (1979) permaneceria preso por oito semanas em Londres pela acusação de ter estuprado quatro mulheres, três delas estudantes de arte, e por ter tatuado uma delas sem consentimento, entre 2015 e 2018.
Considerado um dos 50 mais influentes artistas de rua de todos os tempos em 2013, ele é a estrela do documentário “O que aconteceu com Anthony Lister?”, de 2017, disponível na plataforma Netflix. O filme australiano realiza um perfil que evidencia justamente as origens, o comportamento e a arte do grafiteiro e pintor – e muito do que está ali retratado aponta para os fatos do ano passado, que envolvem ainda posse ilegal de arma de fogo e de drogas.
O filme é uma excelente oportunidade para penetrar na mente de um artista em suas mais diversas facetas, que incluem o fato de não ser aceito em sua própria cidade, Brisbane, onde o grafitar era considera crime e lhe valeu um processo judicial do qual foi absolvido; fases de dificuldades financeiras; e, posteriormente falta de maturidade para lidar com o sucesso, que o levou a mergulhar nas drogas e à separação da esposa e dos três filhos, que voltaram para a Austrália.
O documentário descreve o processo de criação de uma exposição que Lister realiza apenas para a família, em um parque de sua cidade natal, para buscar, sem sucesso, a reconciliação com a esposa e o filho mais velho. O mais interessante é verificar os elos entre arte e vida, pois o estado emocional dele é representado, de diversas formas, nas obras que espalhou pelo mundo, seja as voltadas para a rua e, principalmente, as coleções vendidas em galerias.
Um dos grandes méritos do filme é o de humanizar o artista, tirando-lhe o glamour que a mídia acaba por gerar. Vemos, muitas vezes, um homem desesperado, sem saber muito para onde ir. A arte funciona então como porto seguro. Lister declara que, nos piores momentos, é na pintura que se encontra, pois ali está o que sabe fazer, onde se sente bem e protegido. Lamentavelmente, esse sentimento não o acompanhou em sua vida pessoal, marcada por um turbilhão de acontecimentos que prejudica a sua carreira e a sua existência.
Oscar D’Ambrosio