Se há um filme de 2020 que merece ser visto pela quantidade de discussões que levanta, é “Emicida: AmarElo - É Tudo pra Ontem “, dirigido por Fred Ouro Preto. Os motivos que tornam esses 89 minutos indispensáveis são vários. O principal está em acompanhar como a voz do rapper se levanta como um manifesto que coloca a negritude de um local central da qual foi historicamente retirada.
O documentário mescla trechos do show realizado em novembro de 2019 no Theatro Municipal de São Paulo com a apresentação de uma historiografia que retira pessoas, pensamentos e discursos da periferia e as coloca no coração e na alma do país. Muito mais do que um making-of de uma apresentação a ser lembrada, é uma ação imediata hoje para reconstruir um passado de apagamento.
O discurso de Emicida e dos participantes do show se torna mais do que necessário na atual e complexa e violenta realidade nacional. O espaço do Theatro Municipal paulista, templo, entre outros fatos, da Semana de 1922, próxima do centenário, não poderia ser mais emblemático. O documentário evidencia não apenas o que foi dito e visto no espetáculo de Emicida, mas as reações de quem ali esteve e o ouviu e viu.
Assistir ao filme, disponível na plataforma Netflix, é uma viagem por um túnel do tempo. É recontada uma história que inclui desde os escravos trazidos ao Brasil Colônia à família do próprio Emicida. É apresentado um arco que inclui pessoas sem voz que, ao verem e sentirem os elos que o amar propicia recebem sinais de uma convicção: o protagonismo que lhes foi tomado pode ser recuperado.
Oscar D’Ambrosio