O artista deve ser fiel ao seu estilo ou adaptar aquilo que gosta e sabe fazer ao que o público prefere, que é aquilo que os produtores culturais vão financiar? Essa é apenas uma das múltiplas e relevantes questões que aparecem no filme “Ma Rainey's Black Bottom”, traduzido no Brasil como “A Voz Suprema do Blues”.
Disponível na plataforma Netflix a partir de 18/12;2020, dirigido por George C. Wolfe e tendo Denzel Washington entre seus produtores, a obra é baseada em peça teatral homônima de August Wilson escrita em 1984. O enredo se passa em Chicago, em 1927, numa sessão de gravação de um disco de Ma Rainey, chamada de “A Mãe dos Blues".
Viola Davis interpreta a cantora negra e bissexual que de fato teve papel essencial na popularização do blues no Norte dos EUA; e Chadwick Boseman (o imortal Pantera Negra, em seu último filme) é responsável por dar vida ao carismático trompetista Levee. O embate entre os dois é um dos pontos altos da obra.
Ambicioso e antenado com as demandas de um ritmo mais dançante da população branca dos EUA, Levee se alia ao produtor do disco e quer dar ao repertório tradicional da diva arranjos menos tradicionais. Ela deseja se manter fiel às raízes. A batalha entre o novo e o antigo envolve os membros da banda que acompanha a cantora e terá final trágico.
O filme enfoca o racismo, os dramas humanos de cada um dos integrantes do grupo musical, mergulhando em suas origens e em suas crenças e valores, como o papel da arte e a de Deus em suas existências. E surgem questões essenciais. Uma delas: como e até que ponto o talento e a inovação são autênticos e desafiam a tradição antes de serem engolidos pelo mercado? E essa é apenas uma das portas de entrada para as indagações que o filme propõe sobre o sentido da arte e da vida.
Oscar D’Ambrosio